Camila Macedo é bacharela em Cinema e Vídeo pela Faculdade de Artes do Paraná – Universidade Estadual do Paraná (FAP-UNESPAR) e mestra em Educação pela Universidade Federal do Paraná (PPGE-UFPR).
Em sua filmografia encontramos sua assinatura nos roteiros e direções de Lirion (2018), o episódio [Des]Alinhadxs, da série televisiva documental [Des]Iguais (2017), e o Videoarte Experimento Fílmico (2015). Em 2017, atuou como diretora artística e curadora do festival COLORS: Cinema + Diversidade e, em 2018, foi uma das integrantes da equipe de seleção e programação de curtas-metragens do 7° Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba.
A trajetória cinematográfica não estava nos planos de Camila, que chegou a iniciar dois cursos de graduação antes de optar pelo curso de Cinema, no qual é formada. Mesmo sendo filha de jornalista, o que sempre causou em Camila, desde a infância, interesse pelo meio audiovisual, seu primeiro contato ativo com a área foi atuando como assistente de direção do documentário O Espelho de Ana, a convite de Jessica Candal, diretora do projeto. Camila ainda cursava Design, em 2009, quando recebeu o convite, e foi durante a realização do documentário que Camila entrou para o curso de Cinema e Vídeo, na FAP.
MOSTRA AS GURIAS- Qual é a importância da presença da mulher no cinema? CAMILA MACEDO-O cinema é uma importante máquina de produção de narrativas, de produção de discursos. Como vivemos em mundo cuja História é contada a partir do ponto de vista do homem branco, ocidental, cis gênero e heterossexual (como se este fosse o "sujeito universal"), o cinema realizado por mulheres - com todas as diferenças (de raça, classe, orientação sexual, idade, etc.) que cabem dentro desta categoria - opera descentramentos, traz outras narrativas, muitas vezes nos contando histórias que têm sido sistematicamente apagadas e invisibilizadas pelo cinema hegemônico.
MG-Já sofreu algum tipo de discriminação no meio cinematográfico por ser mulher?
CM-Não lembro de já ter sofrido alguma discriminação escancarada aos modos como costuma acontecer com mulheres que desempenham funções técnicas, como no campo da fotografia ou do som, por exemplo. Mas, em termos mais sutis, sinto que foi muito mais difícil afirmar meu desejo de dirigir do que parecia ser para meus colegas homens durante a faculdade. Como se, de antemão, desde os primeiros períodos, eles já se sentissem autorizados a ocupar determinados lugares por serem muito mais incentivados a desempenhar funções criativas e de liderança, enquanto nós, meninas e mulheres, temos nossas capacidades postas sob suspeita o tempo todo, o que facilmente provoca inibições e inseguranças.
MG-Como você vê a representatividade feminina nas produções e produtos audiovisuais? Acha que estamos em processo de mudança em relação a isso?
CM-Parece-me haver, atualmente, uma sensibilização maior para as questões que envolvem representatividade no cinema - e não só em relação às mulheres, mas também a outras populações minorizadas. Então acho, sim, que temos vivido avanços. No entanto, junto a isso, vêm também outras questões às quais temos de estar atentas: algumas que nos afetam desde dentro - quando nossas tentativas de enfrentar e tensionar o machismo acabam reproduzindo a marginalização dos corpos e vivências de outras mulheres, como quando "mulher" se torna equivalente a "mulher branca" e/ou a "mulher heterossexual", por exemplo - e outras que fazem parte do constante movimento entre resistências e capturas - como quando o feminismo acaba sendo usado como nicho de mercado, por exemplo, enfraquecendo sua potência subversiva.
MG- Como você avalia o cenário cinematográfico curitibano atual?
CM- Curitiba tem se mostrado um campo bastante fértil para o surgimento de iniciativas relacionadas ao audiovisual e ao cinema. É, digamos, um mercado em expansão, com um número grande de profissionais - homens e mulheres - qualificados e qualificadas. Infelizmente, os governos estadual e municipal não têm feito o devido investimento que a área merece e precisa, então embora tenhamos o surgimento de várias boas ideias, há também o sucateamento das condições de trabalho. Realização de filmes com um orçamento muito abaixo do ideal, mostras e festivais que não conseguem manter uma continuidade de edições porque quem os produz acaba tendo de tirar dinheiro do próprio bolso, essas coisas. Em termos da presença de mulheres no cenário cinematográfico curitibano, há ótimas profissionais em praticamente todas as áreas, mas a inserção e valorização das mesmas (especialmente em produções maiores e ocupando cabeças de equipe) tem se dado aos poucos, ainda com o enfrentamento de dificuldades.
Por Nicole Micaldi
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