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  • Foto do escritorRita de Cássia

Com que roupa eu vou?

A luta principal dos feminismos é pelo direito de existir, não somente as mulheres, todes. Quando penso em existir, me remeto a autonomia, nós mulheres temos uma autonomia muito questionável.

Dona Severina, pseudo-nome da minha vizinha, certa vez me contou que o falecido esposo não permitiu por muitos anos que ela vestisse saia ou vestido, hoje com mais ou menos 76 anos, ela desfila pelas ruas de Osório com belos vestidos e saias. Na época que não era autônoma para fazer suas escolhas, a brecha encontrada para sanar seu desejo de usar tais vestimentas, era colocar calças compridas por debaixo de vestidos e saias.

Em 2021, logo no início dos Jogos Olímpicos de Tóquio, a escolha da vestimenta de atletas gerou polêmica. A grande mídia já noticiou os fatos, por isso não vou deter-me em contextualizar, caso não leu sobre o assunto, pesquise.

Meu objetivo é que o relato da Dona Severina e os últimos acontecimentos em Tóquio nos sirvam de reflexão sobre o direito de escolha que nos é negado.

Nossos corpos não são nossos, o proprietário é o patriarcado. Eu, você, a Severina, todas nós estamos sujeitas a um domínio secular. Se vamos estar despidas ou não, é o sistema machista e patriarcal quem vai dizer.

O time de handebol da Noruega foi multado, as atletas não usaram o uniforme biquíni. Severina demorou décadas para escolher sua roupa. Quem normatiza o que podemos vestir? Quem criou a regra que determinado esporte oficialmente deve ser praticado de biquíni? Mulheres?

Não é relevante aqui questionar o desempenho das atletas usando shorts, não sejamos inocentes... O X da questão é o nosso corpo ser objeto, mercadoria.

Cadê nosso direito de escolha? Com que roupa eu vou? Quem responde esta última pergunta? Eu quero ter o direito de escolha, sem que isto me acarrete julgamento, violação e criminalização. Não desejo isso só para mim, desejo para todes!

Antes de sair de casa, te olha no espelho e reflete, será que foi tu mesma que escolheu tua roupa? Será que não foi a indústria da moda, o machismo, a religião, os olhares julgadores...



Nota: A imagem de capa desse texto é a obra VESSEL OF GENEALOGIES (2016), da artista Firelei Báez.

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