Travas no processo criativo são mais comuns do que imaginamos. Esse período de quarentena vem repleto de informações que podem significar um peso extra na cobrança por produtividade, porém é preciso analisar de outra forma esse momento.
Todo interesse parte de uma curiosidade que precisa ser sanada com certa urgência, porém esse interesse pode conflitar com outros afazeres e acabar caindo em um limbo de atividades e esse foi um dos assuntos que conversamos com a autora curitibana Mila Cassins.
Mila tem dois livros publicados de maneira independente, um romance e um livro de contos que, de acordo com ela, nasceram de sua relação com a escrita. A autora conta que teve uma infância e adolescência um tanto quanto introspectiva, portanto encontrou na literatura uma fuga para conseguir se expressar de maneira mais eficaz.
Assim como diversos artistas, Mila se preocupa em não deixar a ideia tornar-se desinteressante para si “Eu evito textos que exigem muita pesquisa por dois motivos: Porque tem mais chance de furar e porque, até eu conseguir fazer toda a pesquisa, a história já esfriou na minha cabeça; a minha rotina já a “atropelou”, outras ideias também vão surgindo. ”.
A dica que a autora dá para quem está no meio de um hiato no processo criativo é: Perceba se o que você está tentando criar combina com o seu perfil. Segundo ela quando há algum tipo de bloqueio significa que algo está, de alguma forma, errado ou fora de contexto, portanto é preciso reavaliar se há interesse em prosseguir o projeto.
Além disso, Mila conta que o comprometimento é parte fundamental durante a execução de uma obra “Durante o processo de escrita dos meus dois livros, eu me comprometi a escrever todos os dias até terminar. Isso funcionou muito bem, me ajudou a permanecer conectada à história. ”.
Conheça Mila Cassins
Mila Cassins tem 27 anos, é curitibana, formada em Jornalismo pela Universidade Positivo (UP) e em Comunicação Institucional pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Trabalha com redação publicitária há cinco anos e possui dois livros publicados de maneira independente, o romance “Quando ele se foi” (2017) e o livro de contos de suspense e terror “Por que as madrugadas são longas?” (2020).
Confira uma breve entrevista com a autora.
Quando e como iniciou sua carreira como escritora?
O meu primeiro livro surgiu a partir de um conto que eu publiquei no meu blog. Achei que ninguém leria, aí começaram a vir pessoas que nem conversavam comigo me dizer que se emocionaram, que renderia um livro. Eu fiquei surpresa e tentei desenvolver o conto, mas eu nem sabia se renderia um livro, nem se ficaria “publicável”, interessante. Foram minhas amigas que me incentivaram a publicar. Depois, os retornos maravilhosos que recebi de diversas leitoras me fizeram continuar e assim lancei o segundo livro. Eu estou fazendo algo que amo e que é natural para mim: escrever. Os livros são felizes acasos.
Quais são suas principais referências?
Eu sou apaixonada pelos trabalhos de Haruki Murakami, Mario Vargas Llosa e Gabriel García Márquez. Por mais que não tenha a ver com o que eu escrevo, ler os universos mágicos que eles criaram é capaz de renovar o meu amor pela literatura e pela escrita. Além disso, eu leio bastante e assisto muitos filmes, mas não me prendo a autores específicos. Vejo perfis literários no Instagram e confiro no Skoob se a obra tem 4 estrelas ou mais, leio as resenhas feitas nessa plataforma, porque são mais qualificadas e sem interesse comercial. Raramente me decepciono com as escolhas.
O que uma escritora precisa fazer para ter sucesso em seu ofício?
Precisa de duas coisas, a primeira é ser uma pessoa aberta, a ouvir conversas ao seu redor (pode ter história aí!), a ler diferentes obras e, principalmente, a melhorar como escritora. Muitos autores acabam vendo o livro como um filho, se alguém faz uma crítica eles ficam ofendidos, ignoram o que a pessoa diz. Se a pessoa é qualificada ou da sua confiança, leve em consideração o que ela disse. Caso necessário, deixe a obra parada durante alguns meses, depois leia de novo: isso vai ajudar você a se afastar e ver as possibilidades de melhoria (elas sempre existem). A segunda coisa que uma escritora precisa para ter sucesso em seu ofício é oferecer qualidade ao leitor. É decepcionante ver um livro com fonte pequena, erro de concordância, capa feia (70% das pessoas compram livro pela capa!). É preciso buscar a melhor qualidade para o texto e para a apresentação gráfica da obra, isso é essencial para a experiência do leitor e para a imagem do autor perante os leitores.
Qual conselho daria para quem está iniciando seu caminho na escrita?
Essa pessoa precisa ver o livro e o reconhecimento como consequência de um objetivo, não como o objetivo em si. Ao invés de pensar “vou escrever um livro” ou “vou ser famoso”, deveria pensar “quero dar o meu melhor” ou “espero que esse livro inspire uma pessoa”. Você precisa extrair aprendizados do processo, ao invés de colocar expectativa no final. Além disso, o reconhecimento vem do outro, e não temos como controlar o outro.
Para entender melhor o processo de publicação independente de um livro, siga a Mila nas redes sociais. Texto por Amanda Bacilla.
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